"António Joaquim gosta de ser pastor. Mesmo sendo obrigado a manter-se no posto faça sol ou faça chuva, à vista dos carros dos carros que passam na estrada da Serra de Carnaxide. Há dezasseis anos que o mundo se habituou a ver António de olho nas cabras e nas ovelhas do pai, o senhor Faustino. Tinha então sete anos e a escola como prisão. Ser pastor era um desafio mais aliciante do que estar fechado entre quatro paredes e ter de aturar professores e estudar cartilhas. Melhor era sujeitar-se às sentenças sazonais e aos caprichos do clima fora do tempo próprio. E à paisagem urbana dos subúrbios de Lisboa. Uma outra paisagem, de qualquer forma. Não aquela a que os cosmopolitas estão habituados. Não as paisagens das ruas dos semáforos, com nomes da História, ladeadas de prédios novos, velhos, altos, menos altos, cheios de telefones e faxes a debitar informações e contra-informações, no ritmo ordenado e forte daquela angústia própria dos centros urbanos, o neologismo stress.
As traseiras da cidade, para alguns o futuro da cidade. Os técnicos do ordenamento chamam-lhe áreas não consolidadas. Para o António é apenas paisagem e, sobretudo, pasto para as cento e trinta ovelhas e oitenta cabras que passeiam todos os dias à boca no que de verde vai crescendo no Casal do Canas. Um baldio onde algumas árvores ainda se mantêm em pé mas cuja espécie dominante é o entulho."
As traseiras da cidade, para alguns o futuro da cidade. Os técnicos do ordenamento chamam-lhe áreas não consolidadas. Para o António é apenas paisagem e, sobretudo, pasto para as cento e trinta ovelhas e oitenta cabras que passeiam todos os dias à boca no que de verde vai crescendo no Casal do Canas. Um baldio onde algumas árvores ainda se mantêm em pé mas cuja espécie dominante é o entulho."
«Pastores da cidade», Essencial do Ambiente, volume I, pag. 124
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