sábado, 29 de dezembro de 2007

"Horizontes da Memória"

Poderia ser mais um programa do carismático José Hermano Saraiva, que tive oportunidade de conhecer numa cerimónia solene em que participei, efectuada no Salão Nobre da Câmara Municipal de Setúbal à já alguns anos.

Trata-se sim de dar também a palavra à outra parte envolvida nas polémicas construções - a Câmara Municipal de Setúbal.

Foi com este pequeno relatório que a Câmara Municipal de Setúbal explicou a situação existente aos moradores:

I - ANTECEDENTES

Os terrenos de que o IHRU é proprietário no Bairro de Santos Nicolau integram-se na área delimitada, em 1973, para o Plano Integrado de Setúbal (PIS), cujo Plano Geral, elaborado no Fundo de Fomento da Habitação (FFH) e aprovado em Maio de 1978, por despacho do então Secretário de Estado da Habitação e Urbanismo, previa já uma operação de reconversão daquele Bairro e da sua zona envolvente, incluindo uma intervenção na Escarpa de Santos Nicolau, no sentido de fazer inverter o acelerado processo de degradação em que se encontrava.

No âmbito desta grande intervenção previa-se já a criação de um importante eixo viário que, em passagem elevada sobre a Av. D. Manuel I, ligaria o Bairro de Santos Nicolau à Bela Vista (fig.1).

Os trabalhos de planeamento urbanístico posteriormente desenvolvidos pelo FFH para a zona encontram-se reflectidos no desenho que propunha uma intervenção na área do Bairro de Santos Nicolau, a levar a cabo no ano de 1986, em que é claramente visível a afectação para construção (de habitação) dos terrenos adjudicados em 2005, através do Concurso Público (CP) 2/DGS/05, para construção de habitação de custos controlados (fig.2).

Com a criação do IGAPHE, em 1987, todos os terrenos do extinto FFH transitaram para o Instituto recém-criado, e com eles os terrenos agora afectos aos CP 2/DGS/05 e 1/DGS/06.

Prosseguindo os propósitos delineados pelo FFH, o IGAPHE, no final dos anos oitenta, em parceria com o Município de Setúbal, lança um concurso de concepção-construção para, concomitantemente com a urgente consolidação e tratamento do talude da escarpa de Santos Nicolau, eleger uma proposta de projecto para a travessia desnivelada da Av. Belo Horizonte sobre a Av. D. Manuel I, bem como a elaboração de um Estudo de Pormenorização Urbana da Escarpa de Santos Nicolau, que incluia também a zona nascente da escarpa da Bela Vista.

A solução escolhida pelo IGAPHE em parceria com a Câmara Municipal de Setúbal, previa que os terrenos afectos ao CP 2/DGS/05 ao CP 1/DGS/06 fossem ocupados com dois conjuntos habitacionais, que constituiriam o remate sobre a Av. Belo Horizonte do tecido urbano que, naturalmente, tinha vindo a crescer de um lado e doutro Av. D. Manuel I.

Quando, em 1995, se chegou à versão final de Revisão do PIS, encontrava-se já consolidada a Escarpa de Santos Nicolau, concluída a sua plantação e ajardinamento e executado o prolongamento da Av. Belo Horizonte ao longo do Bairro de Santos Nicolau, sem que, no entanto, tivesse sido feita a sua ligação à zona da Bela Vista em passagem desnivelada.

Tendo em conta o estudo urbanístico decorrente do concurso de concepção-construção elaborado para a Consolidação da Escarpa de Santos Nicolau, a Revisão do PIS, naturalmente, continuou a prever a construção de habitação nos terrenos hoje afectos aos CP 2/DGS/05 e 1/DGS/06 (fig. 3).No PDM de Setúbal (Art.º 108º ), a área abrangida pelo Plano Integrado de Setúbal corresponde à UOP 1 (Unidade Operativa de Planeamento), com responsabilidade de gestão urbanística atribuída ao IGAPHE, que a exercia tendo como referência a Revisão do PIS. Assim, por inerência, a intenção de construção nos terrenos em causa transitou para o PDM.

Para implementação do previsto no PIS, para os terrenos correspondentes ao CP 1/DGS/06 foi elaborado, em 1992, um loteamento que respeitava o proposto no Estudo de Pormenorização Urbana da Escarpa de Santos Nicolau (fig. 4), loteamento esse que foi aceite pela Câmara Municipal de Setúbal e registado na 2ª Conservatória do registo Predial de Setúbal em Dezembro de 1993, mas que não chegou a ser implementado.

No fim dos anos noventa, com a comparticipação de fundos do II Quadro Comunitário de Apoio, foi finalmente executada a ligação entre Santos Nicolau e a Bela Vista, em passagem desnivelada sobre a Av. D. Manuel I, unindo os dois troços da Av. Belo Horizonte já existentes.

Em 2001, já com o viaduto sobre a D. Manuel I executado, foi elaborado um novo estudo de conjunto para a ocupação habitacional dos terrenos a nascente e a poente desta avenida, para completamento e remate do tecido urbano a norte da Av. Belo Horizonte. Procurava-se também com esta intervenção estabelecer uma articulação entre as frentes construídas das duas avenidas, quer em termos de escala e volumetria, quer em termos de acessos pedonais.

Tendo em atenção o estabelecido no n.º 4 do art.º 7º do Dec-Lei 555/99, de 16 de Dezembro, em contacto com os serviços técnicos da Câmara Municipal de Setúbal, foi promovida a articulação deste estudo com as opções tomadas em sede da elaboração do Plano de Pormenor de Santos Nicolau, cujos trabalhos entretanto se iniciavam, tendo-se chegado a uma proposta de ocupação urbana para os terrenos em questão que foi aceite pela Direcção Regional de Administração e Ordenamento do Território de Lisboa e Vale do Tejo (DRAOT-LVT), em Março de 2002.

Com base no estudo aceite pela DRAOT-LVT, iniciaram-se os trabalhos de alteração do loteamento em tempos já registado para os terrenos a nascente da Av. D. Manuel I, hoje afectos ao CP 1/DGS/06, e encetou-se a elaboração de um projecto de loteamento correspondente para os terrenos a poente da avenida, hoje afectos ao CP 2/DGS/05.

Este último loteamento mereceu parecer favorável por parte da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDRLVT) em Maio de 2005.

A CM Setúbal condicionou a aceitação deste loteamento a pequenos ajustes, ao nível do estacionamento e dos acessos para situações de mobilidade reduzida, ajustes esses que foram introduzidos no projecto.

A versão final do loteamento foi aprovada por Sua Excelência o Secretário de Estado do Ordenamento do Território e das Cidades em Julho de 2005, tendo em Agosto do mesmo ano sido lançado o CP 2/DGS/05 para construção de 33 habitações de custos controlados no lote de terreno constituído, concurso este cujo processo foi enviado à CM Setúbal nesse mesmo mês.

Quanto à alteração do loteamento a nascente da Av. D. Manuel I, o seu registo só ficou concluído em Abril de 2006. O CP 1/DGS/06, para alienação de dois dos seus lotes de terreno para construção de habitação de custos controlados, foi lançado em Julho de 2006, tendo, no mesmo mês, sido enviado todo o processo deste concurso à CM Setúbal.

II – Face ao exposto, pode verificar-se que há mais de duas décadas que nos terrenos da Administração Pública em causa, se encontra prevista a construção de habitação, nunca tendo estes terrenos integrado qualquer zona de paisagem protegida.

Também, através dos elementos do projecto de loteamento que se anexam (figs. 5 e 6) pode verificar-se:

- que se encontram garantidas as ligações pedonais entre os vários níveis dos terrenos e vias envolventes dos edificios, tendo as mesmas sido integradas num projecto de arranjos exteriores elaborado para toda a zona de acordo com o preconizado pelos serviços da CM Setúbal. A execução destes arranjos exteriores virá permitir a circulação de peões em muito melhores condições do que as que actualmente se verificam.

- que o acesso às garagens existentes nunca é posto em causa

- que o edifício a construir no alinhamento da banda já edificada sobre a Av. D. Manuel I só terá 6 pisos, dos quais 5 para habitação e um para estacionamento e comércio, acrescendo que, dado o acentuado declive da avenida, a cota da sua cobertura será inferior à que se verifica no prédio imediatamente a norte.

Nenhum comentário: