quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Recordar é viver: De luto

  • Ó Mamã, dá licença?

Um jogo infantil, que faz parte da memória da maior parte dos adultos portugueses.

É um jogo para seis ou mais crianças, num espaço que tenha parede ou muro, embora estes possam ser substituídos por um risco no chão. As crianças dispõem-se sobre um risco, umas ao lado das outras. Uma, a mãe, fica colocada de frente para as outras crianças, a uma distância de dez ou mais metros. A mãe fica de costas para a parede ou muro.
Uma criança de cada vez vai perguntando à mãe:
- A mamã dá licença?
- Dou.
- Quantos passos me dás?
- Cinco à bebé Justiça portuguesa.
- Mas dás mesmo?
- Sim.
Então a criança avança, dando cinco passos muito pequeninos, pois neste exemplo, dá passos “à bebé” " à Justiça portuguesa".
Em seguida, pergunta outra criança e assim sucessivamente. Ganha o primeiro a chegar ao pé da mãe, tomando o seu lugar e recomeçando o jogo. De referir que, após a ordem dada pela mãe, a outra criança deve confirmá-la antes de a executar (“Mas dás mesmo?”), sob pena de regressar ao ponto de início. As respostas da mãe (ordens), podem ser muito variadas: passos à gigante (grandes), à caranguejo (para trás), à cavalinho (saltitantes), à tesoura (abertura lateral dos membros inferiores), etc.

A nossa fé na Justiça sempre foi questionável e quando nos apercebemos de que isto não ia lá com duas cantigas, entramos num luto rigoroso e preparamos uma recepção condigna aos nossos visitantes de ocasião.
Nada melhor para expressar o nosso luto, do que uma enorme faixa preta, colocada na fachada do prédio contiguo à nova construção, uma enorme faixa preta com os seguintes dizeres:

ATENTADO URBANISTICO?

Actores:
Câmara Municipal de Setúbal
Sociedade de Construções H.Hagen

Saiba mais em:
http://fontedolavra.blogspot.com

Metemos mãos à obra e esta ficou pronta no final do dia 28/12/2007. Tinha 6x3 metros e as letras em branco prometiam uma boa visibilidade ao longe.
Tinhamo-nos esquecido de um importante actor: o IHRU-Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, pois ainda pensávamos que tudo isto, ainda era fruto das 'negociatas' entre o Manel 'Alcatrão' e a construtora.
Mesmo assim, estes dizeres não passaram na 'censura' interna, que achou por bem não expor a parte em que se falava nos autores deste 'atentado' urbanístico.
Foi então colocada a 'meia-faixa', ainda assim bem visível por todos os que circulavam nesta importante via rodoviária (Avenida D.Manuel I).
No dia 19 de Janeiro juntamos à 'festa' uma nova faixa preta, com um nome sugestivo

O "MURO" DA VERGONHA

que ainda se mantém no mesmo local, passados praticamente 4 anos. Está velhinha mas ainda continua a fazer o seu trabalho, que é, envergonhar todos aqueles que de alguma forma estão directa ou indirectamente ligados aquele que, para nós foi um atentado urbanístico. Qualquer que seja o desfecho final da nossa acção principal, este nome que identifica o mamarracho e a zona, irá prevalecer por algum tempo.
No melhor pano cai a nódoa e, quando as obras pararam por efeito da nossa 2ª Providência Cautelar, achou-se por bem retirá-las para não criar qualquer tipo de pressão à decisão do Juiz que até era de Setúbal.
Uma terrível asneira, da qual ainda nos arrependemos nos dias de hoje, e que conduziu (na nossa modesta perspectiva) a que o Juiz tivesse motivos mais do que suficientes, para alterar a sua decisão à ultima hora:

"Aqueles gajos, sem qualquer pedigree, já estão conformados. Vamos mas é ajudar quem precisa de trabalhar e fazer negócio..."

Olhando para trás, quem fez pressões no sentido contrário (e que se calhar foram os mesmos que fizeram "desaparecer" por alguns meses o processo dentro do próprio Tribunal de Almada, e cujo inquérito interno nada apurou de errado, pois se calhar, o que eram na altura 13 volumes, só caíram para trás do armário, quando a empregada da limpeza andava a limpar o pó), agora que estão com o seu dinheirinho a arder, teriam ganho muito mais (ou não tinha perdido tanto), se tivesse deixado que a Providencia Cautelar tivesse sucesso, e assim o processo judicial tinha prazos muito mais curtos. A gulodice imobiliária ganhou na altura, mas o tempo foi passando e a justiça dos homens foi-se fazendo até aos dias de hoje...
Cinco meses depois de termos entrado de luto, renovamos o nosso guarda roupa, não sem antes homenagear todos os que estiveram envolvidos na pintura das letras no 1º painel. Assim, e antes de ser retirada definitivamente para umas merecidas férias, o pessoal do contra concordou em dar-lhe as suas 24 horas de fama e eis que durante o dia 28/05/2008 foi visível a nossa primeira faixa negra em todo o seu esplendor.
As duas novas faixas que deram ao nosso luto um novo look, permaneceram expostas vários meses e uma delas ainda pode ser vista nos dias de hoje, num local bem visível, quer da Avenida D.Manuel I, quer do Viaduto sobre a mesma avenida.
Falta falar de uma das nossas faixas pretas, que foi a mais cara de todas (60 euros). Metia-nos confusão todo um corropio de pessoas que, especialmente ao sábado, faziam fila para ver os apartamentos. Longe ia o tempo em que os serviços da Câmara Municipal de Setúbal enviaram uma carta para todas as pessoas que estavam inscritas para uma casa camarária, irem ao local da construção dar o seu nome, para assim fazer valer a tese de que estas novas habitações eram urgentes, para alojar as muitas famílias carenciadas de Setúbal. Uma mentira digna de qualquer 1º de Abril.
Era agora uma nova onda, que ia ao cheiro de casas baratas com vista para o Estuário do Sado. Uma placa monstruosa (que não me recordo de ver noutras construções semelhantes), assim o anunciava a todos os que circulavam na zona. Mais uma vez era mais uma mentira digna do 1º de Abril, ou melhor, um caso sério de publicidade enganosa (dada a importância deste facto, dedicàmos-lhe um artigo completo, publicado no dia 10-01-2010 com o título CSI Lavra - Episódio 2: Preçário).
Foi nesta leva que enviamos ao local, os nossos 2º e 3º compradores fictícios, o primeiro dos quais estava incumbido de por todos os meios possíveis e imaginários, arranjar um documento da imobiliária com os preços que estavam a ser praticados (bem sucedida); o segundo dos quais (um simpático casal) estava incumbido de tentar tirar fotos no interior e das vistas a partir dos vários apartamentos. O vendedor não 'descolou' e a missão foi um fracasso. Foram conseguidas somente informações sobre o numero e localização de apartamentos à venda, para depois podermos cruzar com outras informações disponíveis. Esta visita teve de ser interrompida bruscamente porque o Engenheiro responsável pela obra apareceu na zona e certamente iria desmascarar o 'falso casal', já que eram pessoas com quem este se cruzava regularmente na zona (moradores) e estavam conotados com o 'inimigo'. Como o vendedor da imobiliária era um bom conversador (como convém), ficamos também a saber, que ele era um dos compradores de apartamento neste mamarracho, um quarto andar, possivelmente a partir do qual foi tirada a fotografia que foi conotada como publicidade enganosa, no nosso artigo CSI Lavra - Episódio 5: Duh...
Teria sido ele (pelo menos das suspeitas não se livrou) que implicou com esta nossa ultima faixa, e tendo descoberto o autor do blog, comentou venenosamente o artigo Mentiras, vigarices, trafulhices & afins (escrito propositadamente no dia 1 de Abril de 2009) em que publicitávamos esta nova faixa, que pretendia alertar os possíveis compradores (os tais que faziam fila principalmente ao sábado) que poderiam não estar a comprar a casa dos seus sonhos, mas sim a arranjar um problema para o resto da sua vida. O comentário está divinal, é machista q.b.

Anónimo disse...

Só gostaria de colocar uma questão: A senhora não tem mais que fazer? Não tem mais com o que se preocupar?
Se a sua vida é tão inutil e por isso mete-se na vida alheia, deixo aqui uma sugestão VÁ LIMPAR A CASA. Ou já que fala em familias carenciadas, tenho a seguinte questão que trabalho social faz? quantas crianças, velhotes ou mesmo quantas familias ajuda? provávelmente não faz nada não é? que pobreza de espirito, dedique-se a questões ou causas uteis e não ande ai armada em parva a falar daquilo que não sabe...

3 de abril de 2009 15:05

e que só foi mais tarde suplantado pelo do 'procurador', no artigo Agente infiltrado, que também suspeito que foi feito pela mesma pessoa.

Anônimo disse...

a este ordinário dono deste blog digo que a justiça peca por tardia mas não falha, sou procurador e quanto menos esperar vais levar um processo crime em cima que nunca mais te levantas!!!

27 de setembro de 2010 21:58

A permanência das faixas pretas é para continuar, até que haja uma primeira decisão judicial, que poderá ser já no próximo verão. Só a partir desse momento é que iremos ponderar os prós e os contras da sua existência. Temos consciência de que estamos a perturbar as vendas de apartamentos neste mamarracho, mas se a decisão judicial nos for favorável (com a demolição total ou parcial do "Muro" da Vergonha), teremos assim conseguido, de uma forma 'alternativa', que menos famílias necessitarem de ser realojadas.
Ficamos a saber no início do mês que, de repente, ficaram um número razoável de apartamentos à venda nesta emblemática obra, pelo menos tantos quantos as placas disponíveis que foram entretanto deslocalizadas do 'Outro Muro', que continua à espera de melhores dias (existem problemas técnicos graves, também conhecidos por falta de 'carcanhol') para a conclusão dos seus acabamentos, e as placas a anunciar a venda desses apartamentos era uma autêntica aberração.

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